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terça-feira, 3 de julho de 2012

Ferreira Gullar e sua poesia social na atualidade


Ferreira Gullar, maranhense nascido em 1930, possui uma sólida carreira literária, foi um dos intelectuais e artistas brasileiros exilados durante o período da ditadura militar, é um dos fundadores da estética neoconcretista e está até hoje escrevendo poesia. O poeta, uma das bandeiras vivas da literatura brasileira, descendente lírico e temático de Drummond e João Cabral de Melo Neto, dedicou sua obra à poesia lírica de impressões e experiências pessoais e à poesia lírica social.

A preocupação pelos problemas sociais brasileiros (problemas esses que parecem ser os mesmos de vários anos atrás) aparece de forma concreta nos seus poemas, tais como a desigualdade social, o duro cotidiano do trabalhador operário, a fome, a realidade das regiões pobres e esquecidas do Nordeste, etc. No pequeno poema "Madrugada" já esboça essas linhas: "Do fundo de meu quarto, do fundo de meu corpo clandestino ouço (não vejo) ouço crescer no osso e no músculo da noite a noite... a noite ocidental obscenamente acesa sobre meu país dividido em classes", dentro de um conceito de noite tal como no poema "A Noite Dissolve os Homens" de Drummond, representando injustiça e ausência de paz; já em "Poema Brasileiro", pegou uma notícia de jornal, um fato estatístico - sobre a mortalidade infantil no Piauí - e reescreveu como um poema, modelando sua forma, usando a repetição como recurso (de novo uma semelhança com Drummond, agora em seu "No meio do caminho") para atribuir um eco abismante da realidade social - uma característica do seu neoconcretismo, doar sentimento à forma estética quase geométrica do poema.

Há também poemas em que o eu-lírico de Gullar além de denunciar as mazelas do quadro social brasileiro, também faz referência ao papel do poeta na sociedade e à forma pela qual a poesia age dentro dela. É assim que escreve "Não há vagas", "Agosto 1964" e "A bomba suja"; Gullar sabe da sua responsabilidade social e da importância da poesia, então através dela ele denuncia: "Do salário injusto, da punição injusta, da humilhação, da tortura, do horror, retiramos algo e com ele construímos um artefato... um poema, uma bandeira"; metaforiza a miséria e a iniquidade a que os oprimidos e esquecidos são submetidos na forma de "diarreia" ou "bomba suja" da qual o poeta deve denunciar em seguida estender a mão ao necessitado.

Ao clicar nos links abaixo, você poderá ler os poemas citados:

Não há vagas
Agosto 1964
Poema Brasileiro e A bomba suja (entre outros poemas que aparecem na página)

Douglas P. Coelho

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