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terça-feira, 31 de julho de 2012

Poema "A Escravidão" de Tobias Barreto


Tobias Barreto foi um importante poeta brasileiro, embora muito esquecido pela crítica. Participou do movimento literário do Romantismo, tendo inclusive a fundação do Condoreirismo creditada a ele.

O Condoreirismo ou Terceira Fase Romântica, foi um movimento artístico-literário marcado pelo poema social e de defesa do abolicionismo, de ideias republicanas e igualitárias. Portanto, a temática da escravidão era recorrente (ver posts sobre Castro Alves no blog); abaixo, confira o poema "A Escravidão", de Tobias Barreto, publicado no livro "Dias e Noites" (1893):

A Escravidão
Tobias Barreto

Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...

1868

Douglas P. Coelho

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A justiça judiciária

Um dos assuntos mais debatidos no que se refere a Direitos Humanos é a imparcialidade e a veracidade das questões judiciais. Esse tema já recebia atenção lá atrás com os escritores e filósofos do fim do século XVIII e século XIX como Émile Zola e Voltaire - este o provável maior defensor da justiça penal.

Com os avanços contemporâneos da tecnologia e da ciência, temos maiores possibilidades de se fazer um julgamento correto, embora ainda muitos erros sejam cometidos em nome da arbitrariedade e parcialidade das sentenças.

Para debater o tema, o autor Camilo Gomes Jr. escreveu o interessante artigo "E eu vos declaro culpados" para os sites humanistas Bule Voador e A Voz da Espécie.

Leia o artigo através do link abaixo:
"E eu vos declaro culpados"

Douglas P. Coelho

terça-feira, 24 de julho de 2012

A "arte degenerada" da Nova Objetividade alemã

Os grandes artistas alemães das primeiras décadas do século XX foram responsáveis por movimentos artísticos representativos como o Expressionismo e a Nova Objetividade. Muitos desses artistas perpassaram as duas correntes, embora elas possuíssem algumas diferenças e fossem em alguns pontos antagônicas. Falando especificamente da Nova Objetividade, ela trazia a proposta de fazer retratos fiéis à realidade da época, falar sobre a miséria, as mazelas da sociedade, a ascensão e governo do nazismo e sobre as instituições vigentes. Nas artes plásticas, os três principais nomes foram Max Beckmann, Otto Dix e George Grosz. 

Esses três fizeram parte do grupo de artistas alemães dissidentes ao governo nazista que surgia e tomava enormes proporções e, por isso, foram destituídos de seus empregos, presos, tiveram suas obras classificadas como "arte degenerada" e diversas vezes até destruídas, até que finalmente buscaram moradia em outro países. 

Artística e esteticamente, suas obras eram diversas. Max Beckmann, que estava na Primeira Guerra Mundial como ajudante do corpo médico e por isso viu de perto seus horrores, pintava imagens de tortura e sacrifícios. Otto Dix - que como seu compatriota também participou da Primeira Guerra, mas como soldado voluntário - possuía uma obra essencialmente com uma poderosa temática anti-guerra, costumeiramente pintando sobreviventes de guerra aleijados e desmembrados; quadros como "Soldado Ferido" (pintado em de forma sombria em preto-e-branco, o que o torna ainda mais aterrorizante) e "O Vendedor de Fósforos" (um homem que perdeu os braços e as pernas na guerra, esquecido por todos na calçada, lembrado apenas pelo cachorro que urina em cima dele) são eloquentes em seu propósito; também retratava o quadro social, como é o caso de "Queremos Pão!", com uma multidão de miseráveis do lado de fora de um estabelecimento onde se encontrava confortavelmente instalada membros da alta burguesia; por fim, George Grosz possuía algumas obras mais satíricas em relação às instituições da sociedade e seus membros, como os políticos, os chefes do Exército e a Igreja - nesse propósito, o quadro "Os Pilares da Sociedade" é icônico, com estes membros tendo suas cabeças "abertas" mostrando apenas excrementos ou intenções de guerra, além do chefe religioso se mostrando, pela janela, receptivo e sorridente para um mundo destruído por horrores; entretanto, também se dedicou à temática da guerra em si, como nos quadros "A Explosão" e "Caim ou Hitler no Inferno" - numa associação de Hitler com a figura bíblica de Caim que, segundo o livro cristão, foi responsável pelo primeiro homicídio da humanidade.

Veja abaixo algumas das principais obras dos três pilares da Nova Objetividade alemã (clique sobre as imagens para visualizar em tamanho maior):

          Inferno de Pássaros, Max Beckmann                        A Noite, Max Beckmann

             O Vendedor de Fósforos, Otto Dix                                                     Queremos Pão!, Otto Dix

                 Soldado Ferido, Otto Dix                            Guerra de Trincheiras, Otto Dix

       Caim ou Hitler no Inferno, George Grosz                     A Explosão, George Grosz

                                      Os Pilares da Sociedade, George Grosz

Douglas P. Coelho

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Maria du Bocage e sua luta pela liberdade

Manuel Maria du Bocage é sem dúvidas um dos maiores poetas em língua portuguesa. Sua imensa versatilidade lhe permitia transitar pelas poesias lírica, satírica, bucólica, erótica e boêmia com enorme facilidade. Bocage também escreveu poesias que faziam ode à liberdade.

O poeta português foi contemporâneo da Revolução Francesa e das revoluções e clamores de independência em volta do mundo. O próprio poeta desenvolveu seu clamor pela sua independência, já que foi várias vezes impedido de publicar seus ácidos poemas que criticavam e faziam troça das instituições vigentes como a igreja e o Antigo Regime, tendo assim sua liberdade de expressão restringida. Seus poemas "Liberdade, onde estás" e "Liberdade querida e suspirada" mostram o que ele via em relação à democracia de sua época.

Para ler os dois poemas citados, clique nos links abaixo:

Liberdade, onde estás
Liberdade querida e suspirada

Douglas P. Coelho

terça-feira, 17 de julho de 2012

5 filmes para se discutir Direitos Humanos

Como qualquer outra forma de arte, o cinema sempre foi um poderoso meio de se mimetizar a realidade e seus conflitos. O transporte das angústias e mazelas do ser humano foi bem executado em uma infinidade de filmes que gravaram na história as problemáticas da sociedade; abaixo estão listados cinco seletas produções que trataram com eficiência a injustiça e a opressão:

Giant - Assim Caminha a Humanidade - George Stevens (1956)


"Giant" é um épico grandioso do cinema, aborda temas delicados com maestria e forma um retrato de uma região erguida pela ganância e desrespeito aos direitos alheios; encara de frente temas incômodos para a sociedade conservadora, tais como a estrutura familiar, o patriarcalismo, a discriminação contra a mulher e principalmente o preconceito étnico. Contando com lendas como Elizabeth Taylor e James Dean, o filme já nasceu clássico.

Schindler's List - A Lista de Schindler - Steven Spielberg (1993)


Baseado na história real de um homem que salvou milhares de judeus dos nazistas, A Lista de Schindler é, provavelmente, o retrato mais poderoso da Segunda Guerra Mundial no cinema; as imagens de execuções públicas e da frieza dos algozes é algo estarrecedor. Com cenas míticas tais como as sequências finais, a garotinha da capa vermelha no meio de pessoas em preto-e-branco (foto) e as sequências de execuções, A Lista de Schindler é arte pura.

One Flew Over The Cuckoo's Nest - Um Estranho No Ninho - Milos Forman (1975)


O excepcional Jack Nicholson estrela esta intrigante história que poderia ser abordada de diversos prismas dos mais diversos campos do conhecimento: sociologia, psicologia, ciência política, etc. O filme aborda o tratamento desumano dado à pacientes com transtornos mentais e a inserção da figura do "estranho" num meio social com suas normas já estabelecidas (o que o título em português já sugere).

Persepolis - Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud (2007)


A iraniana Marjane Satrapi utilizou sua própria história de vida para escrever a história em quadrinhos e posteriormente dirigir, ao lado de Vincent Paronnaud, a animação Persepolis. O filme é impecável e traça de forma muito bem resumida a dura trajetória das revoluções e ditaduras de um Irã em busca da sua liberdade. Fatos sociais como o controle da democracia e da liberdade individual, a opressão da figura feminina e a discriminação étnica são bem abordados. A bela animação em preto-e-branco - com exceção de uma ou outra cena em cores - conta ainda com as vozes de grandes atrizes francesas: Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve e Danielle Darrieux.

Paths Of Glory - Glória Feita de Sangue - Stanley Kubrick (1957)


O célebre diretor Stanley Kubrick conseguiu com Glória Feita de Sangue o filme anti-guerra mais eloquente já feito. A ganância e o abuso do poder pelos homens de cargos superiores é mostrada de forma realista e sem escrúpulos; o filme mostra também a necessidade de perda da humanidade dos homens para se enfrentar a guerra - a cena do general repreendendo o soldado que chorou por temer a sua sorte ilustra bem isso - em contraposição à fraqueza e angústia do homem diante da morte iminente, além da recuperação da própria humanidade na arrasadora cena final através da arte, tão esquecida em tempos de horror. Como bem disse o crítico Marcelo Janot, Glória Feita de Sangue é um verdadeiro manifesto humanitário.

Douglas P. Coelho

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A delicadeza de Cecília Meireles sobre a guerra

Cecília Meireles é sempre lembrada como um dos maiores nomes da literatura brasileira. Sua obra é riquíssima, publicou clássicos como Romanceiro da Inconfidência (1953), Mar Absoluto (1945) e Ou Isto Ou Aquilo (1964); Cecília lançou seu delicado olhar sobre os mais diversos temas como o amor, a velhice, os sonhos, a espiritualidade, os fatos históricos, etc. Além deles, a guerra e seus horrores também teve seu tratamento dado pelas linhas da poeta.

Em poemas como "Os Homens Gloriosos", "Guerra" e "Lamento do
Oficial Por Seu Cavalo Morto", Cecília assume a posição de um alguém escandalizado pelo que o homem foi capaz de fazer e que o culpa pela sua sede de glória desmedida. A poeta, que mostra com sua lírica que é diferenciada, chora por um cavalo morto e o decreta, em sua inocência, ser melhor do que nós: "Indigno, ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração. Animal encantado - melhor que todos nós! - que tinhas tu com este mundo dos homens?"; a poeta resta completamente desacreditada dos homens diante da realidade que se insere: "o clamor dos homens gloriosos cortou-me o coração de lado a lado. Pois era um clamor de espadas bravias (...) pegajosas de lodo e sangue denso"; a realidade torna-se tão inconcebível que ela deseja retornar ao pó para esquecer o que viu e ouviu os homens fazerem: "Senhor da Vida, leva-me para longe! (...) Reduze-me ao pó que fui! (...) Reduze a pó a memória dos homens, escutada e vivida".

Para ler os três poemas, clique nos links abaixo:

Os Homens Gloriosos
Lamento do Oficial Por Seu Cavalo Morto
Guerra

Douglas P. Coelho

terça-feira, 10 de julho de 2012

A ideologia da Negritude - Parte 2: Aimé Césaire


A corrente literária da Negritude, de consciência e afirmação da cultura negra, teve em Léopold Sédar Senghor um de seus mentores. Mas além dele, o outro grande idealizador foi o poeta, ensaísta e também político francês Aimé Césaire.

Um de seus poemas mais representativos e conhecidos é "Caderno de um regresso ao País Natal". Nele, Aimé Césaire demonstra toda sua veia literária e põe em discussão duas de suas maiores lutas: as lutas contra o preconceito e contra o colonialismo. Punha em dúvida o "direito" dos países de primeiro mundo em subjugar os países da Ásia e principalmente da África; além, é claro, da habilidade de se travestir com a identidade do homem oprimido, este que inclui o negro e qualquer outro tratado como tal. Essa é uma peça chave do seu poema, Césaire fala do "homem-fome", "homem-tortura", "homem-insulto" e "homem-judeu", universaliza sua luta pelo direito à vida e à dignidade humana: "o homem-fome, o homem-insulto, o homem-tortura, que a qualquer momento pode ser abusado e espancado a murros, ou morto - sim, matá-lo - sem a ninguém dar contas nem apresentar desculpas"; depois, o poeta continua: "a minha boca é a boca dos desgostosos que já não têm boca, a minha voz, a liberdade dos que sucumbem às masmorras do desespero"; versos anti-colonialistas também são enfáticos: "a África gigantescamente canilizada ante o pé hispânico da Europa, a sua nudez onde a Morte ceifa a grandes passadas"; já o conceito de Negritude aparece pela primeira vez explícito através deste poema: "Minha negritude não é uma torre nem uma catedral (...) perfura a opressão opaca da sua paciência estreita" - aqui a palavra paciência pode ser interpretada também como tolerância.

Para ler um excerto traduzido do poema "Caderno de um regresso ao País Natal", clique AQUI.

Douglas P. Coelho

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A ideologia da Negritude - Parte 1: Léopold Sédar Senghor


O século XX foi um momento capital para a discussão e prática do conceito de direitos humanos; se os tempos anteriores serviram para a elaboração do mesmo, agora as perspectivas vinham ganhando um plano mais concreto. No que se refere à cultura negra, apesar da abolição da escravatura e da proibição do tráfico de escravos, percebia-se que havia muito a ser conquistado ainda. Então vimos emergir grandes nomes dos mais variados campos do conhecimento e de atuação - filosofia, literatura, política - que chamaram para si a missão de guiar a afirmação negra dentro da sociedade: Martin Luther King, Malcom X e Nelson Mandela foram alguns dos mais importantes e notáveis. Dentro da literatura, surgiu uma corrente literária de valorização dessa cultura negra e africana, seus costumes e suas crenças espirituais.

Um dos principais idealizadores desta corrente foi o escritor senegalês Léopold Sédar Senghor que também atuou na política, sendo eleito o primeiro presidente de Senegal. Nas suas poesias, o escritor francófono valorizava principalmente a beleza da mulher negra, descrevia e exaltava suas particularidades e qualidades. Dois ótimos exemplos são os poemas "Mulher Negra" e "Máscara Negra", este último dedicado ao artista plástico Pablo Picasso.

Leia os dois poemas de Senghor nos links abaixo:

Mulher Negra
Máscara Negra

Douglas P. Coelho

terça-feira, 3 de julho de 2012

Ferreira Gullar e sua poesia social na atualidade


Ferreira Gullar, maranhense nascido em 1930, possui uma sólida carreira literária, foi um dos intelectuais e artistas brasileiros exilados durante o período da ditadura militar, é um dos fundadores da estética neoconcretista e está até hoje escrevendo poesia. O poeta, uma das bandeiras vivas da literatura brasileira, descendente lírico e temático de Drummond e João Cabral de Melo Neto, dedicou sua obra à poesia lírica de impressões e experiências pessoais e à poesia lírica social.

A preocupação pelos problemas sociais brasileiros (problemas esses que parecem ser os mesmos de vários anos atrás) aparece de forma concreta nos seus poemas, tais como a desigualdade social, o duro cotidiano do trabalhador operário, a fome, a realidade das regiões pobres e esquecidas do Nordeste, etc. No pequeno poema "Madrugada" já esboça essas linhas: "Do fundo de meu quarto, do fundo de meu corpo clandestino ouço (não vejo) ouço crescer no osso e no músculo da noite a noite... a noite ocidental obscenamente acesa sobre meu país dividido em classes", dentro de um conceito de noite tal como no poema "A Noite Dissolve os Homens" de Drummond, representando injustiça e ausência de paz; já em "Poema Brasileiro", pegou uma notícia de jornal, um fato estatístico - sobre a mortalidade infantil no Piauí - e reescreveu como um poema, modelando sua forma, usando a repetição como recurso (de novo uma semelhança com Drummond, agora em seu "No meio do caminho") para atribuir um eco abismante da realidade social - uma característica do seu neoconcretismo, doar sentimento à forma estética quase geométrica do poema.

Há também poemas em que o eu-lírico de Gullar além de denunciar as mazelas do quadro social brasileiro, também faz referência ao papel do poeta na sociedade e à forma pela qual a poesia age dentro dela. É assim que escreve "Não há vagas", "Agosto 1964" e "A bomba suja"; Gullar sabe da sua responsabilidade social e da importância da poesia, então através dela ele denuncia: "Do salário injusto, da punição injusta, da humilhação, da tortura, do horror, retiramos algo e com ele construímos um artefato... um poema, uma bandeira"; metaforiza a miséria e a iniquidade a que os oprimidos e esquecidos são submetidos na forma de "diarreia" ou "bomba suja" da qual o poeta deve denunciar em seguida estender a mão ao necessitado.

Ao clicar nos links abaixo, você poderá ler os poemas citados:

Não há vagas
Agosto 1964
Poema Brasileiro e A bomba suja (entre outros poemas que aparecem na página)

Douglas P. Coelho
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