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terça-feira, 4 de setembro de 2012

A versão cinematográfica de Madame Bovary por Claude Chabrol


Madame Bovary é um dos maiores romances da literatura francesa, escrito por Gustave Flaubert e publicado em 1867. A obra é bastante emblemática em vários contextos: é apontada como uma das precursoras do movimento realista na literatura mundial; foi uma obra à frente de seu tempo, causando um enorme estarrecimento no público da época; e ainda trouxe um dos primeiros personagens que servem de símbolo da resistência feminina diante de uma sociedade patriarcal e machista. E isso sem dizer que Emma Bovary, a personagem que dá o título à obra, foi fonte de inspiração para outras personagens posteriores, como Capitu em Dom Casmurro de Machado de Assis na literatura e Séverine Serizy de A Bela da Tarde no cinema, obra de Luis Buñuel com interpretação de Catherine Deneuve.

E falando de cinema, o romance de Flaubert ganhou, em 1991, a sua adaptação para as telonas. O responsável pelo desafio foi Claude Chabrol, um dos maiores cineastas franceses e integrante do inovador movimento da Nouvelle Vague. A atriz escolhida para viver Emma Bovary foi Isabelle Huppert, também um ícone da Sétima Arte na França. Unindo a literatura e o cinema, duas artes nas quais os franceses sempre foram conhecidos como pioneiros e como potência, o resultado não poderia ser diferente: a obra de Chabrol terminou como magnífica e honrou a original, apesar das dificuldades que se tem em transportar uma história de um tipo de arte para outro.

O enredo se desenvolve sobre o momento em que Emma morava com o pai, passando pela sua ascensão social ao se casar com um médico - Charles Bovary - e vai caminhando até seu final trágico. Mas ao contrário do que se poderia imaginar no início da obra, com o aparente interesse ganancioso de Emma em se casar apenas por elevação de status social, a mesma não se submete à hierarquia masculina e ao invés disso tenta a todo custo e como pode, buscar a satisfação pessoal em detrimento ao que a sociedade espera. Após se casar com o médico, passa a desprezá-lo pelo seu conteúdo raso, suas conversas superficiais e seu conformismo; enquanto Charles estava pleno com sua vida na província, Emma aspirava a vida da grande cidade e seus bailes. Então, infeliz no casamento, ela busca primeiramente uma fuga para a literatura, mas após ter lido todos os livros e romances que poderia, passa a se envolver com amantes. Com dois deles, Rodolphe e Léon, ela encontra o que desejava: com o primeiro, os galanteios e os arroubos de uma paixão amorosa tórrida; com o segundo, as mesmas paixões pelas artes, literatura e música, através de um homem com o espírito não tão vazio como o do marido. Porém, em meio aos seus casos secretos, Emma vai despendendo extravagâncias luxuosas com o dinheiro de Charles - outra forma que encontrou de depositar seu desdém por ele, comprando objetos até para seu amante -, e aos poucos, por meio de dívidas, acaba tendo que procurar ajuda a terceiros.

A obra traz além críticas destinadas à burguesia, à nobreza e ao clero, alvos preferidos dos escritores realistas. A igreja é posta como decadente e desacreditada, a nobreza e a burguesia como cobiçosas e alheias ao que não é de seus interesses. No que se refere à história literária, esta gerou grandes problemas para Flaubert, que foi processado pelo governo francês por ofender a moral e a religião, contexto em que declarou a frase "Emma Bovary sou eu".

Douglas P. Coelho

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