Blog dedicado ao projeto de extensão em Cultura e Arte "Da tolerância à liberdade: ecos da Literatura Francesa"
domingo, 10 de junho de 2012
Carlos Drummond e o poema da empatia - Parte 2
Após adentrar no campo da poesia social com Sentimento do Mundo, de 1940, Carlos Drummond de Andrade publica cinco anos depois outra obra bastante representativa desta fase: A Rosa do Povo.
Apesar da temática social, esta obra difere da outra por ter um teor reflexivo acerca do papel do artista num mundo transformado pelo horror e incompreensão. Neste sentido, a rosa seria uma metáfora para o artista, no caso, o poeta, como última esperança para o medo e o desamor. Tal sentimento fica claro já na pequena estrofe que serve de prólogo ao livro.
"A rosa do povo despetala-se,
ou ainda conserva o pudor da alma?
É um anúncio, um chamado, uma esperança embora frágil,
pranto infantil no berço?
Talvez apenas um ai de seresta, quem sabe.
Mas há um olvido mais fino que escuta, um peito de artista que incha, e uma rosa se abre, um segredo comunica-se. O poeta anunciou, o poeta, nas trevas, anunciou."
O poeta é o responsável por fazer a rosa se despetalar em meio às trevas ou à rua cinzenta como diz no belíssimo poema "A Flor e a Náusea"; nele o poeta fala da importância em se enfrentar o "enjoo" pela palavra: "Vou de branco pela rua cinzenta (...) Devo seguir até o enjoo? Posso, sem armas, revoltar-me? (...) Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera." O poeta também lamenta pelo homem que não é capaz de compreender a sua miséria e vive como um "morto-vivo" sem contato com a arte, metáfora tão utilizada na obra de Drummond: "Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Vomitar esse tédio sobre a cidade. (...) Todos os homens voltam para casa. Estão menos livre mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem." É um poema que sintetiza a necessidade de desautomatizar o cotidiano pela arte: "Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. (...) É feia. Mas é realmente uma flor. (...) Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio."
No livro, há também poemas dedicados à uma preocupação evidente com a guerra e suas consequências. "Carta a Stalingrado" é o maior exemplo disso, com referência à Segunda Grande Guerra já no seu título, através do nome Stalingrado, cidade onde se deu a batalha decisiva entre a União Soviética e a Alemanha que delineou a derrota dos nazistas. O poema é um ode à cidade, que aqui aparece como um símbolo aos novos tempos, tempos de esperança à harmonia global, Stalingrado é o símbolo da resistência e confronto à barbárie. "Stalingrado, quantas esperanças!".
Douglas P. Coelho
Para ler os dois poemas na íntegra, clique sobre os nomes:
A Flor e a Náusea
Carta a Stalingrado
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