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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A velocidade moderna no poema "Ode Triunfal", de Pessoa

Poeta de várias facetas e identidades, Fernando Pessoa sob o heterônimo de Álvaro de Campos escreveu sobre os avanços da modernidade durante sua fase futurista. Neste contexto surgiu o poema "Ode Triunfal".

A situação histórica do progresso industrial e tecnológico, advindos das Revoluções Industriais, deixa o eu-lírico antes extasiado pela máquina, sedento de sentir e ser como tal: "Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina! Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!". Porém, ao longo do poema vemos que o novo e também futuro mundo - "eia todo o futuro já dentro de nós" -, com todos os seus avanços tecno-industriais, esconde por trás uma falta do sentir e um excesso do ambicionar:

"Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá náufragos deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!

Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje!"

Para ler o poema completo, clique AQUI.

Douglas P. Coelho

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A poesia feminista por autores(as) atuais


A poesia social e engajada existe há um longo tempo, com suas origens firmadas na época do Romantismo, no início do século XVII. Porém, certos movimentos e ideologias igualitárias e de reivindicação de direitos só foram adentrando este campo artístico na modernidade e, alguns, apenas nos últimos anos. Um desses casos é o do movimento feminista, que teve em figuras como Virginia Woolf e Simone Beauvoir suas maiores representantes na literatura e também algumas das primeiras a tratar do tema com maior profundidade.

Mas na contemporaneidade, especificamente nas últimas décadas, à medida que o tema vem sendo mais debatido e tomando a forma de constantes reivindicações, a literatura - como arte que caminha os mesmos passos de seu contexto histórico - vem abrindo maior espaço para novos autores visitarem o assunto. O espaço SedeDeQuê? é dedicado ao feminismo moderno e contém uma página voltada à arte de poemas com essa ideologia, escritos por novos autores.

Leia alguns dos poemas no espaço SedeDeQuê? (clique sobre o nome para acessá-lo).

Douglas P. Coelho

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O discurso final em "O Grande Ditador", de Charles Chaplin


Uma das mentes artísticas mais criativas de todos os tempos, Charles Chaplin, o grande nome do cinema mudo, sempre transmitia poesia através apenas de imagens e gestos. Porém, em 1940, lançou seu primeiro filme com diálogos, e mostrou que também era capaz de emocionar através das palavras. Lançou o seu "O Grande Ditador", reconhecido hoje como uma de suas maiores obras-primas; em meio a diversas cenas marcantes a sequência final se destaca, quando um de seus dois personagens declama um poderoso discurso anti-guerra, um manifesto que se mantém atual e como modelo até hoje.

Confira abaixo a cena citada com legendas em português:



Douglas P. Coelho

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Fernando Pessoa e seus heterônimos sobre a guerra


Um dos mais cultuados poetas da história, Fernando Pessoa, juntamente com seus famosos heterônimos, também escreveu sobre o tema da guerra.

Sobre o assunto, três são os poemas que podemos destacar: "Tomamos a Vila Depois de Um intenso Bombardeamento", "A Guerra Que Aflige Com Seus Esquadrões" (assinando como Alberto Caeiro) e "Ode Marcial" (assinando como Álvaro de Campos). Seu toque lírico sempre especial e único, empresta ao tema a sublimidade que só o herdeiro de Camões poderia alcançar.

Abaixo, clique nos links para ler os poemas:
A Guerra Que Aflige Com Seus Esquadrões
Ode Marcial
Tomamos a Vila Depois de Um intenso Bombardeamento

Douglas P. Coelho

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Nazim Hikmet, o poeta da distância e da separação


Tido como o maior e mais reconhecido poeta da Turquia, Nazim Hikmet teve o destino que parece acometer grande parte dos intelectuais que vivem em duras épocas: passou anos e anos exilado e na prisão, além de ter perdido sua nacionalidade turca em 1951, retirada pelo governo de seu país - fato que só sofreu reviravolta a pouco tempo, em 2009, quando "recebeu de volta" sua nacionalidade, muitos anos após suas morte de 1963.

O enorme tempo que passou exilado e preso, longe da sua terra nativa, resultou numa temática muitas vezes saudosista do poeta, em que lastima a distância e a separação do seu local de origem, sua esposa e seu povo - a distância e separação das nações e das pessoas é também uma preocupação de Hikmet. Fica claro esse apelo nos poemas "Nostalgia" e "Angina", este último também um clamor pelo resto do mundo que ardia em guerras. Ao poeta não lhe importa as enfermidades físicas, só o que lhe pode adoecer são a falta de paz e a sua impotência diante da distância dos povos.

O poema "A menina" faz uso da inocência infantil para se contrapor à barbárie causada pela guerra, referenciando a bomba atômica de Hiroxima e seus efeitos sobre as gerações futuras que nasceram naquela cidade: "Morta em Hiroxima há mais de dez anos, sou uma menina de sete anos (...) Não matem as crianças e deixem-nas também comer bombons". E em "Eles não nos deixam cantar", seu clamor se volta para a falta de liberdade que passavam os artistas, principalmente os dissidentes, usando de referência Paul Robeson, cantor e ativista negro: "Eles não nos deixam cantar Robeson (...) Eles têm medo, Robeson, medo da aurora, medo de ver, medo de ouvir, medo de tocar. Eles têm medo de amar."

Para ler os poemas, segue os links abaixo:
"Angina" e "Eles não nos deixam cantar"
"Nostalgia" e "A menina"

Douglas P. Coelho

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A atmosfera sepulcral em Réquiem, de Anna Akhmatova

Uma das maiores escritoras russas, Anna Akhmatova viveu a época do duro regime estalinista e padeceu como civil e principalmente como mãe e esposa. Seu filho Lev Gumiliov foi encarcerado e seu marido e também poeta, Nicolai Gumiliov, executado por ser acusado de ir contra os valores soviéticos.

O sofrimento que teve que suportar foi transportado para seu maravilhoso, mas triste poema "Réquiem", composto entre 1935 e 1940. Como o próprio título já sugere, o texto é permeado por um lamento trágico, um enfrentamento quase físico da morte e da dor. A pequena estrofe que abre o poema já antecipa o iminente caos que assolou a União Soviética e que vinha a ser narrado ao decorrer do poema: "Não, não foi sob um céu estrangeiro (...) eu estava bem no meio de meu povo, lá onde meu povo infelizmente estava".

O contexto histórico é conhecido através do sofrimento pessoal do eu-lírico da poeta, é por meio da forma como recai sobre ela a pesada realidade que somos apresentados ao que se passava naquele país - e que foi comum a tantos países ao longo da história. A realidade é inclusive cravada como irremediável e opressora: "Houve um tempo em que só sorriam os mortos, felizes em seu repouso". Os dramas a que passaram seu filho e seu marido, foi o drama de incontáveis soviéticos: "E quando, enlouquecidos pelo sofrimento, os regimentos iam embora, para eles as locomotivas cantavam sua aguda canção de despedida". No poema, há muito a sentir e, apesar de sua linguagem clara, carrega uma lírica lúgubre tocante.

Para ler o poema "Réquiem" traduzido para o português por Lauro Machado Coelho, clique neste LINK.

Douglas P. Coelho

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Le Déserteur, de Serge Reggiani e Boris Vian


Boris Vian (foto) e Serge Reggiani foram duas célebres personalidades francesas: o primeiro era escritor e músico, o segundo, ator e cantor. Boris Vian era um dos importantes nomes do jazz na França e compôs "Le Déserteur" (O Desertor), canção que foi interpretada por Serge Reggiani.

A letra da canção é sobre um homem que se recusa a participar da guerra e deserta da sua convocação. O homem escreve uma carta ao presidente do país pedindo sua retirada e dizendo ao mesmo que fosse o próprio dar seu sangue na guerra. O desertor diz que não veio à terra para matar as pessoas pobres e que irá tentar persuadir seu povo a se recusar em participar também. A vida do autor da carta já havia sido marcada por perdas e sofrimento, como a morte de seu pai e sua mãe, a partida dos seus irmãos e a perda de suas esposa quando fora prisioneiro, portanto ele não queria passar por mais.

Abaixo, veja um vídeo com a interpretação da música por Serge Reggiani e a declamação feita pelo mesmo do poema "Le Dormeur du Val" (já postado no blog também), de Arthur Rimbaud, ambos os textos manifestações antimilitaristas:




Douglas P. Coelho

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A carta de despedida de Guy Môquet


Guy Môquet foi um jovem parisiense que atuou como militante comunista durante a Resistência Francesa - do qual se tornou um símbolo - na Segunda Guerra Mundial. Guy foi detido e condenado a fuzilamento junto a outros vinte e seis reféns no campo de concentração Camp de Choisel, que se situava na comuna de Châteaubriant. A condenação a execução do grupo foi uma retaliação aos ataques dos resistentes franceses aos alemães nazistas. Foi o mais jovem dentre os fuzilados, tendo morrido com apenas dezessete anos e meio. 

O jovem mártir escreveu antes de morrer uma carta de despedida dirigida a seus pais, irmãos e amigos. Nela, Guy reitera pedidos à família, principalmente à mãe, para que tenham coragem para suportar as dores advindas da tragédia anunciada; ele diz que desejava viver, mas que, do fundo de seu coração, sua morte servisse de exemplo para algo futuro; sem arrependimentos, ele pede que seu irmão estude para se tornar um homem e diz a seu pai que se esforçou para seguir os caminhos apontados por ele.

Guy Môquet foi fuzilado na data de vinte e dois de outubro de mil novecentos e quarenta e um.

Para ler a carta completa, a original em francês, clique AQUI.

Douglas P. Coelho

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A Formação e a Convivência Multiétnicas no Brasil e o Mito de sua Cordialidade, de Moacyr Scliar


Moacyr Scliar é um importante nome das letras brasileiras da época contemporânea; sua obra é versátil e transita entre romances, contos, novelas, crônicas e literatura infantojuvenil. Mas no que concerne à temática, sua dedicação à questão dos direitos humanos e da igualdade é exemplar, principalmente quando o assunto é a realidade judaica (cultura na qual o autor nasceu e cresceu). Neste post será tratado o seu artigo "A Formação e a Convivência Multiétnicas no Brasil e o Mito de sua Cordialidade".

Em seu texto, Scliar faz um paralelo das situações vividas e presenciadas ao longo de sua vida com o panorama geral do preconceito e intolerância no Brasil desde sua origem até os dias atuais. Em relação às suas experiências, ele volta na época em que frequentou um colégio católico após terminar seu curso primário; relata episódios de preconceitos sofridos por ele - um judeu - e por um menino negro. Situações que são, infelizmente, comuns, como acusar um negro de ter feito algo sem haver provas reais do que foi acusado, tal como julgamentos mais duros unicamente pelo fato de ser negro. E, pelo lado do judeu, decretar de imediato que ele está predestinado a ir para o inferno durante a "eternidade" e que somente pode alcançar o purgatório no caso de fazer boas ações e agir honestamente enquanto vivo.

Já no que diz respeito à linha histórica traçada pelo autor, ele conta desde os impropérios cometidos contra os indígenas até a opressão sofrida por negros e mulatos. A matança promovida contra os índios é uma das páginas mais sujas da nossa história, quando os europeus dizimaram os habitantes que aqui viviam através, dentre outros meios, de doenças que os nativos não conheciam e que eram espalhadas no meio de seu povo. Scliar remete a opressão de negros e mulatos como o segundo episódio de intolerância na história brasileira: eram trazidos como escravos, tidos como animais e não seres humanos, sem alma e doentes por causa da sua cor. E para quem acha que a calamidade acaba por aí, ainda havia um nome de doença para os que tentavam fugir da sua deplorável situação: "drapetomania", a mania de fugir da escravidão; e, conta Scliar, que os médicos tratavam dessa suposta "doença" amputando os dedos dos pés dos fugitivos para que os forçasse a permanecer. Já em relação aos mulatos, estes eram tidos como portadores de patologias físicas - como a tuberculose - e psicológicas que os levavam à bebida e ao suicídio, por exemplo; mas ninguém parecia suspeitar que isso era devido às suas condições sociais, que os ambientes em que viviam eram tão promíscuos que a transmissão de doenças como a tuberculose era facilitada, assim como a opressão social em que viviam facilitava suas tendências de fraqueza psicológica. Esse tipo de condicionamento social pode ser visto até hoje de várias formas e entre vários tipos étnicos e sociais.

Scliar também toca em dois pontos importantíssimos: um deles é algo que poucas pessoas falam, e se refere à reciprocidade da intolerância, pois muitas vezes os próprios grupos oprimidos se fecham e não se permitem o contato e a convivência com o exterior, rejeitando até mesmo os membros do seu próprio grupo que se prestam a esse conhecimento, algo que deriva, talvez, do anseio exacerbado em afirmar sua identidade, permitindo a essas pessoas que olhem o mundo somente através de uma ótica reduzida em consequência de sua opressão. O outro fator é a motivação da intolerância, esta que não advém apenas da incompreensão dos sentimentos e anseios alheios, mas também e principalmente vem à serviço de mecanismos de controle social, político e/ou econômico; o massacre de índios, judeus e negros são dos maiores exemplos dessa observação, já que seus povos foram trucidados por serem considerados um inconveniente à economia e à soberania dos opressores. Entretanto, é sempre importante salientar que essa ameaça é apenas ilusória, que só se passa aos olhos dos privilegiados amedrontados e gananciosos, sedentos por terem sua liberdade e regalia se sobrepondo à igualdade.

Caso se interesse em ler o artigo completo de Moacyr Scliar, você pode fazer o seu download AQUI.

Moacyr Scliar nasceu em 23 de março de 1937 na capital Porto Alegre e morreu em 27 de fevereiro de 2011 na mesma cidade. Amigo próximo do também escritor e cronista Luís Fernando Veríssimo, suas principais obras são os romances O Exército de um Homem Só e O Centauro no Jardim, ambos narrando histórias e conflitos de personagens judeus. Sua importância no cenário literário brasileiro lhe rendeu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, sendo eleito para tal no ano de 2003.

Douglas P. Coelho
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